Quando conheci meu noivo, um dos meus maiores medos era ele descobrir que eu era escritora. Toda vez que o assunto enveredava para literatura (algo bem frequente, já que nós dois adoramos a área), eu ficava desesperada.
O lançamento do meu primeiro romance, em 2011, não passou despercebido a ninguém do colégio onde ambos estudamos. Como se não bastasse, minha melhor amiga é prima dele.
— É bem improvável que ele não saiba que você tem um livro publicado — ouvi certa vez na terapia. Fazia meses que estávamos namorando, e a cada dia eu me sentia mais perto de ser desmascarada.
Foram necessárias mais algumas sessões até que minha terapeuta me passasse a seguinte tarefa: dar um exemplar do livro ao meu namorado. Voltei duas semanas mais tarde sem ter executado a missão. Falamos sobre isso. Chorei. Recebi a mesma tarefa outra vez.
Era um sábado, nós íamos sair. Antes de ele chegar para me buscar, apanhei um volume do livro na estante, escrevi uma dedicatória e enfiei numa sacola, que carreguei durante todo o passeio, com o estômago embrulhado. Na volta, quando ele parou o carro na porta do meu prédio, dei-lhe um beijo, saí para a calçada e atirei o livro no banco do carona imediatamente antes de bater a porta e disparar para dentro de casa.
Isso foi em 2019. Três anos depois, precisei mencionar a um dos meus professores do Jornalismo que eu havia publicado um livro em 2011. Achei que ia ser como fiz com meu noivo — falar e sair correndo. Não foi. Ele ficou todo entusiasmado e insistiu que queria um exemplar autografado. Levei para ele numa sacolinha discreta, que fiz de tudo para entregar quando nenhum outro aluno estivesse olhando, no início da aula.
— Posso falar do seu livro para a turma? — perguntou o professor.
Tentei desconversar, mas ele estava tão empolgado que não consegui dizer não (maldita necessidade de agradar). Tomei meu lugar como uma condenada à pena capital. Passei aquela hora e quarenta minutos afogando minha ansiedade em meio litro de café mocha com menta do Starbucks, o que hoje eu reconheço como o pior jeito de combater o frio na barriga. A cada frase que o professor começava, alguma coisa saltava no meu estômago, é agora!, e meu corpo pouco evoluído reagia como se estivesse frente a frente com um mamute.
Foi só no último minuto da aula, quando todos já recolhiam o material para ir embora, que ele chamou a atenção da classe e falou do livro de fantasia que eu publiquei aos 13 anos. Algumas pessoas vieram falar comigo, mas a maioria apenas correu para o trabalho, e eu sobrevivi.
Há muitas questões envolvidas nesses dois episódios, e uma delas é a síndrome da impostora. Não importava que eu escrevesse desde os sete anos e já tivesse um romance publicado. Eu não me sentia escritora. Pensei que isso fosse uma esquisitice minha, até que, entrevistando escritoras brasileiras para um livro-reportagem, descobri que muitas autoras se sentem assim, mesmo sendo best-sellers, traduzidas, elogiadas pela crítica.
Uma das atitudes que tomei para me livrar desse sentimento e ser capaz de me assumir escritora foi justamente publicar outro livro.
Para os leitores, A estrela de mil braços é um romance com uma personagem com a qual as mulheres se identificam em vários níveis, que toca em feridas comuns e reúne experiências frequentes na vida das mulheres. Para mim, é também a representação do momento em que me apropriei da minha identidade. Foi com esse romance que parei de ter medo de ser “desmascarada” e passei a me apresentar com orgulho: “sou escritora”.
Para isso, a publicação independente foi o único caminho possível, não o plano B. Como uma pessoa perfeccionista, que estava lutando para se reconectar consigo mesma e com sua vocação, eu precisava colocar um livro no mundo. Procurar uma editora é um processo longo, repleto de respostas que nunca chegam, retornos que demoram. Naquela ocasião, eu não podia esperar nem mais um segundo para me sentir o que nasci para ser.
Por outro lado, publicar de qualquer jeito nunca foi uma opção. Eu precisava estar satisfeita com meu trabalho, fazer jus à dedicação que empreguei na escrita. Esse romance não podia ser um livro amador, lançado às pressas. Felizmente, a autopublicação pode (e deve!) ser profissional. Não é um caminho intuitivo — aprendi isso entre muitos erros e acertos —, mas, se todas as etapas seguirem planejamento e estratégia, o resultado é o sentimento pleno de realização.
É por isso que, hoje, dedico-me a orientar escritoras que desejam se reconectar com seu propósito por meio da publicação. Nas próximas semanas, vou compartilhar com você o que me ajudou a virar essa chave. Se você também sente que está travada, fique por aqui. Tem coisa boa a caminho.
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