As inscrições para o 10º Prêmio Kindle de Literatura abriram no início de maio e vão até o dia 31 de agosto. Para quem não sabe: esse prêmio é realizado pela Amazon, e, para participar, é preciso publicar um romance inédito de forma independente pela plataforma de autopublicação da Amazon, o KDP. Todos os anos, gosto de ver os inscritos, para acompanhar o que está sendo lançado de forma independente. Com o tempo, o número de participantes aumentou, implicando uma quantidade maior de obras muito boas e também mais livros de baixa qualidade.
Como esse é meu escopo de trabalho (sou escritora, jornalista e trabalho com autopublicação), e anualmente observo os mesmos problemas se repetirem nas obras autopublicadas, esta edição da newsletter será focada em orientações básicas para quem deseja colocar um livro no mundo sem recorrer a uma editora.
Antes, gostaria de trazer uma reflexão.
Quando falamos em “publicação independente” ou “autopublicação”, em geral as pessoas pensam que cabe ao autor fazer tudo sozinho. É o que o nome sugere, mas na prática não funciona bem assim. Se escrever é coletivo, como sempre defendo, publicar também é.
Publicar sem editora não significa que o autor, especializado em escrever, deva cuidar de todas as etapas por conta própria. Ou, pior ainda, que ele deva saber de antemão o que fazer, como se a publicação independente fosse intuitiva, porque não é. Dominar a escrita — o trabalho principal do autor — não o faz magicamente saber diagramar, elaborar uma capa, usar uma plataforma de publicação online, organizar um lançamento, divulgar. Embora tudo isso seja parte do processo, muitas vezes, um escritor nem se lembra (ou nem sabe) da necessidade de certas etapas.
Então, a autopublicação é uma furada? Não necessariamente.
Se um escritor deseja seguir esse caminho, pode aprender como se faz. Pode dar conta de algumas partes, talvez precise delegar outras. O que define a autopublicação é o autor conduzindo e organizando o andar da carruagem. Só será uma má ideia se a pessoa entrar nessa no escuro, a esmo, acreditando que é um caminho muito fácil, simples, quase amador. Não me canso de repetir: publicação independente não é sinônimo de publicação amadora.
O que é uma furada é esse jeito de assumirmos (e isso é muito forte no Brasil) que tudo relacionado à literatura contemporânea é intuitivo e dispensa instrução. Que bobagem enorme e nociva! Um médico não nasce sabendo realizar uma cirurgia, um engenheiro não nasce sabendo erguer um prédio, um advogado não nasce sabendo defender um cliente. Como e por que um escritor deveria nascer sabendo escrever, e pior, publicar?
De onde a gente tirou que essas atividades são simples? Se fossem, a redação deveria ser a matéria em que todo mundo vai bem. Spoiler: longe disso. Tão longe que ela é, na verdade, o gargalo de muitas provas.
Desde que conheci a autopublicação, me apaixonei por esse caminho. Ele me levou a leitores, amigas e à coragem de me assumir escritora. E isso porque eu não entrei no mercado literário com a publicação independente — ela veio depois de onze anos.
O primeiro passo para mudar o valor que a sociedade dá aos escritores é nós, autores, levarmos nosso trabalho muito a sério. Precisamos adotar uma rotina, estudar escrita, ler colegas nacionais e contemporâneos, investir no nosso ofício, usar a palavra certa para nos designarmos: “escritora”, “escritor”. Assumir quem somos e nos apropriar disso. Esses gestos, sozinhos, não vão reverter o cenário, mas são parte da mudança. Não dá para esperar que os outros deem valor ao seu trabalho se você não se aprimora, não estuda técnica. E se você, autor independente, não investe numa publicação de qualidade, bem diagramada, com conteúdo de qualidade e aspecto profissional. O produto do nosso trabalho é o livro. Ele deve estar à altura do nosso esforço.
Vamos às orientações básicas, mas uma última colocação: se você não sabe fazer, aprenda com quem sabe — e valorize o trabalho de quem ensina. Dito isto: eu sei fazer e vou começar a ensinar. Se quiser entrar nessa com assertividade, vamos juntas!
O básico da publicação independente
Revise, revise, revise. Quando terminar, contrate um revisor. Erros ortográficos e de digitação são absolutamente normais. Todo mundo os comete, inclusive quem escreve muito bem. É humano — mas não deve chegar ao leitor. Revise várias vezes, de preferência dando um tempo entre as revisões, durante o qual você se afasta do material, para evitar o vício do olhar. Mas nem isso será suficiente. Um revisor profissional é a melhor forma de arrematar o trabalho e garantir a fluidez do texto.
Ouça críticas antes que seja tarde demais. Talvez você ache que sua história está bem amarrada, coerente, coesa. Confia tanto nisso que publica, e então vários leitores começam a apontar os mesmos problemas (no enredo, no personagem, na linguagem). Você se frustra: como não viu isso antes? É para isso que serve a leitura crítica (não confundir com leitura beta). Trata-se de um serviço pago, no qual um profissional analisa o seu texto e faz comentários sobre a estrutura, o desenvolvimento, a linguagem, o estilo. O autor pode ou não acatar os comentários e, a partir daí, aprimorar o trabalho antes de o livro ser publicado.
Se não sabe fazer a nível profissional, contrate quem sabe. É provável que você, escritor, não seja um diagramador nem um capista. Portanto, por mais que você se esforce, dificilmente terá um resultado profissional nessas áreas. E nesse meio a forma pode ser tão importante quanto o conteúdo. A capa deve estar alinhada com o gênero e ser instigante, para que quem a vê tenha vontade de pegar o livro na mão (ou clicar nele, no caso dos livros digitais) e saber mais. O mesmo vale para a diagramação: se for capenga ou comprometer a legibilidade, pode levar o leitor a desistir do seu livro.
Comece a divulgar agora. “Ah, mas meu livro não está pronto, ainda nem terminei de escrever” — melhor ainda. As pessoas têm listas enormes de livros que querem ler. Você acha mesmo que elas vão deixar todos eles de lado e passar na frente um de que nunca ouviram falar, do nada? Nem você faria isso. É preciso gerar curiosidade e criar expectativa para que, quando o livro for lançado, sua rede de seguidores já esteja esperando por isso. Se ainda está escrevendo, fale sobre seu processo, os livros que está lendo, o tema geral do seu livro.
Evite seguir na base da “tentativa e erro”. Tudo bem, todo mundo erra, não é o fim do mundo. Mas ter uma estratégia assertiva reduz os erros evitáveis, como perder oportunidades valiosas ou gastar mais tempo e energia do que o necessário. A vida dos escritores, em geral, é bem corrida — é provável que você tenha outro emprego, filhos, compromissos diversos. Publicar um livro não precisa ser estressante. Acredite, não precisa mesmo. Mas isso só é possível se você tiver conhecimento prévio, em vez de apenas uma coleção de “dicas” aleatórias que compilou por aí.
Se você gostou do texto, me acompanhe aqui e nas redes sociais (estou no Instagram e no TikTok), porque nos próximos dias farei um anúncio inédito.
Na última semana, estive…
Escrevendo: meu próximo romance. Estou seguindo uma rotina que tem me feito muito bem, e a história está avançando com leveza.
Lendo: revistar O pequeno príncipe pela primeira vez na vida adulta foi especial. É tão bom quando os livros continuam agradando nas releituras!
Assistindo: Bridgerton. E estou viciada!